BREVE HISTÓRICO SOBRE A TERAPIA FAMILIAR


                                   BREVE HISTÓRICO SOBRE A TERAPIA FAMILIAR

                                                                                                 Fonte: http://www.terapiacasalefamilia.blogspot.com
                          


Antes de começar os resumos das várias abordagens em Terapia Familiar avalio como importante falar acerca desse meu trabalho.

Sei que é essencial um olhar mais aprofundado acerca desse tema, a todos os profissionais que vivenciam a Terapia Familiar. Todavia, sinto, em algumas situações, a vontade de rever, conceitos, experiências, interações, trocas, avanços, relatos de casos, de forma mais breve, das diversas escolas de Terapia Familiar Sistêmica.

Desenvolver esse olhar mais integrativo e poder, sistemicamente, nos "apropriar" desses conteúdos teóricos e práticos, poderá muito nos auxiliar tanto no nosso ser pessoa, como no nosso fazer profissional.

É dentro desse olhar que desenvolvo esse trabalho.

obs: Os referidos resumos têm como base de estudo o livro (o qual recomendo para aprofundamento) Terapia Familiar, Conceitos e Métodos de Michael P.Nichols e Richard C. Schwartz,7 ed. Porto Alegre: Artmed,2007

Em cada resumo identifico o número do capítulo do referido livro.

TERAPIA FAMILIAR E DE CASAL- Breve histórico

A Terapia Familiar teve seu início na década de 1950. Muitos foram os seus colaboradores, dos quais podemos citar Gregory Bateson e Nathan Ackerman, os quais aparecem como pioneiros nos Estados Unidos.

Já nesse período, a T. F.( Terapia Familiar) tinha a compreensão da família dentro de uma abordagem na qual o grupo familiar era estudado como um grande sistema.

Mais na frente, de 1960 a 1970, mediante o desenvolvimento da T.F. a mesma assumiu várias modalidades de nomes, de acordo com as suas mais diversas escolas, dentre as quais destaco: Sistêmica, Estrutural, Estratégica, Boweniana, Experencial. Esses modelos, juntos, rejeitavam o modelo psicanalítico e se uniram em torno do modelo sistêmico.

Aos poucos, a abertura e o desenvolvimento da T.F. proporcionaram a integração de várias correntes tais como a T.F. Psicanalítica, Cognitivo Comportamental, Narrativa, Focada na Solução, como ainda modelos integrativos.

Muitos são os estudiosos da T.F. dentre os quais podemos citar: Bateson, Ackerman, Salvador Minuchin, Jay Haley, Virgínia Satir, Murray Bowen, Tom Andersen, Monica McGoldrick, Harlene Anderson...

No Brasil podemos ressaltar como grandes nomes da T.F. dentre outros: Marilene Grandesso, Maria José Esteves, Terezinha Féres, Rosa Macedo, Sandra Fedulo, Roberto Faustino( Recife), Rosana Rapizzo, Luiz Carlos Prado...

Antes da T.F. a pessoa era vista como o foco principal do problema, e, o objetivo central terapêutico recaía sobre o "portador" do problema, ou seja o"paciente identificado".

Atualmente, uma dificuldade apresentada por um "filho problemático", faz o processo terapêutico buscar também como alvo de estudo o seu contexto relacional, e suas influências recíprocas, ou seja a circularidade das influências familiares no indivíduo e da pessoa no sistema familiar .

Entendemos que o sistema familiar vivencia interações que vão repercurtir no seu desempenho, tanto no seu ambiente interno como externo. Asim sendo, como já mencionada anteriormente, vemos a compreensão da circularidade como um dos principais pilares da T.F. Estuda-se, atenciosamente, as sequências interacionais dos familiares, para um olhar mais aprofundado acerca dos fatores que estão "segurando"o padrão comportamental familiar.

Sabe-se que todo sistema faz parte de um sistema maior, por esse motivo, a necessidade de se relacionar a família, observando-se sua rede de subsistemas, mediante a leitura de contextos mais amplos, ou seja: indivíduo, grupo, comunidade, sistema de crenças, cultural, político...

A família é compreendida como um sistema aberto, e, dependendo de como "administra" suas relações, poderá "trabalhar" para diante de um desafio, problema, continuar na sua zona de conforto e não propiciar a mudança, ficando na homeostase. Pode também "trabalhar" no favorecimento da mudança buscando condições de superação e novos significados.

É importante ressaltar que a T.F. dos dias atuais, tem seus paradigmas baseados na Ciência Pós Moderna e se apóia nos seguintes conceitos:

Complexidade- Não existe só uma realidade: base no multiverso;há diferentes olhares, múltiplos significados acerca de um mesmo fato.
A T.F procura facilitar a compreensão desses saberes, investindo em uma leitura ampliada da realidade;

Imprevisibilidade -Compreender que as imprevisibilidades existem, pois muitos fatos  não estão sob o nosso controle;
Intersubjetividade- Influências recíprocas entre o observador e a realidade observada: negação da neutralidade.Ou seja, enquanto participante do processo terapêutico, o terapeuta, também, coloca nesse percurso suas vivências.

obs- Aos que quiserem aprofundar o assunto, sugiro a leitura do livro Terapia Familiar Sistêmica- Bases Cibernéticas- Maria José Esteves, 1995.

A Teoria Sistêmica nos ensina a olhar como a vida das pessoas é moldada pelas interações tanto com seus familiares como pelos contextos nos quais estão inseridos.

O contexto familiar é compreendido de forma menos objetiva, mais complexa, na qual se vai em busca dos diversos significados dos membro familiares e da família como um todo.

O terapeuta familiar deverá atuar como um facilitador, ajudando nesse processo de curar feridas e também de mobilizar talentos e recursos.

Para tal é preciso que ao trabalhar no processo terapêutico familiar, o terapeuta possa se aprofundar nos seguintes pontos significativos:

Contexto relacional;

Circularidade dos comportamentos: individual e familiar,emocional,afetivo, cognitivo...

Padrão de comportamento familiar-Abertura /fechamento à mudança;

Estrutura familiar: subsistemas, fronteiras, triângulos,alianças, coalizões, hierarquia, papéis;

Heranças familiares e suas influências : Proximidade e diferenciação, sentimento de pertencer à família através dos seus valores e aprendizados, mas também se trabalhar em busca de um sentido de autoria própria: autonomia.
Esse olhar familiar é transgeracional focando a família de origem e a família nuclear.Muitas vezes, trabalhamos com a compreensão de tres gerações.

Processos dc Comunicação;

Crenças, valores, significados;

Ciclos de vida familiar;

Função do sintoma na familia;

obs- Os ítens acima são frutos da minha prática clínica, podendo, dependendo da singularidade de cada caso, serem complementados, modificados...

O terapeuta familiar sistêmico procura desenvolver uma epistemologia voltada à atenção de como evolui na sua forma de conhecer, atuar, mediante a observação atenta dos seus valores, sua visão de mundo, e a forma através da qual faz a integração desses fatores ao contexto terapêutico.

Seu olhar é, continuadamente, voltado ao contextual, ao relacional, sem esquecer também o valor do fator individual em cada sistema familiar, refletindo o terapeuta, que ao mesmo tempo que é parte integrante do sistema, haverá momentos nos quais precisará desse sistema tomar uma cautelosa distância.
Contextualizando uma visão pós- moderna, sistêmico- si - cibernética, dentro do conceito da Terapia  familiar , 1980, ( Maria José Esteves) é importante reforçar os seguintes pontos:

 Entender que  a família é um sistema aberto e que o terapeuta não estar a serviço de reparar ou consertar a disfunção. Importante o trabalho cooperativo entre família e terapeuta voltando o olhar à família também como recurso e não só dificuldade.
A  intersubjetividade do terapeuta deverá ser compreendida e incluída no contexto do sistema: o terapeuta deverá, ao mesmo tempo que faz parte do sistema, dele tomar distância para refletir conteúdos que são seus e das famílias.

Sabendo que não existe apenas uma realidade, o terapeuta precisa estar consciente das suas ideias que tem acerca das patologias, estruturas disfuncionais, seus preconceitos, das suas demandas, para que colocando tudo isso em parênteses, possa estar aberto para visões alternativas.

Essencial que o terapeuta aja como facilitador da autonomia do cliente, vez que ele  tem a função de "arquiteto do dialogo", que incentiva condições e facilita a abertura para a criação do espaço dialógico.

O terapeuta deverá compreender que adotar o pensamento circular não significa anular o pensamento linear, que faz parte da sobrevivência de todos nós. Importante é focalizar idéias, sentimentos e ações,compreendendo como esses se entrelaçam e contribuem ao sentido de autoria das famílias, olhando também as condições de interdependência dessas situações.

Fundamental ao terapeuta pós moderno é investir, continuadamente, no exercício de aprender sobre terapia familiar, aprender como fazer terapia familiar e aprender como ser um terapeuta de família.

Termino esse breve resumo citando Maria José Esteves na sua fala sobre a atuação do terapeuta familiar:

"Trabalhando adequadamente as reações que a família provoca nele, o terapeuta familiar, terá em mãos mais um poderoso fator de mudança da família em si próprio."

Lígia Oliveira - Resumo dos livros acima citados.

Lígia Oliveira- Terapeuta de família/casal e psicanalista, Recife, 2011.



Fonte: http://casa. abril.com.br//materia/entrevista- humberto- maturana-e-a importancia do amor.

O médico e biólogo propõe que o cultivo do amor seja um caminho para a realização humana e a coragem de se questionar, a única alternativa de quem ambiciona a paz.

Em 2000, Maturana e sua parceira, a professora Ximena Dávila, fundaram o Instituto Matriztico, em Santiago, no Chile. Em 2010, esse centro tornou-se a Escuela Matríztica Santiago, espaço que estimula a conversa e a reflexão sobre a natureza humana e as relações entre os homens. Eles estiveram recentemente no Brasil, participando de um workshop promovido pelo Caravanserai Eventos e pelo Instituto Pallas Athena, de São Paulo. Nesta entrevista, a dupla fala sobre amor, dor e reflexão. E nos convida à prática da reflexão como caminho para um mundo melhor.

Bons Fluidos: O que significa colocar o amor como um fundamento biológico do ser humano?

Humberto Maturana: O ser humano não vive só. A história da humanidade mostra que o amor está sempre associado à sobrevivência. Sobrevive na cooperação. Se a mãe não acolhe o bebê, ele perece. É o acolhimento que permite a existência. Numa de suas parábolas, Jesus fala do camponês lançando sementes ao solo. Algumas caem nas pedras e são comidas pelas aves, outras caem num solo árido e resistem por pouco tempo. Mas há aquelas que encontram boa terra e crescem vigorosas. Assim também nós precisamos de um solo acolhedor para nos desenvolver. Nosso solo acolhedor é o amor.

BF: Como a senhora, uma cientista, pode definir o amor?

Ximena Dávila: Esse não é um fenômeno eventual, mas uma condição básica e cotidiana que define as relações entre os humanos. Amar é uma atitude em que se aceita o outro de forma incondicional e não se exige ou se espera nada como recompensa. Amar implica ocupar-se do bem-estar do outro e do meio ambiente. Em vez de oferecer instruções do que e como fazer, amar é respeitar o espaço do outro para que ele exista em plenitude.

HM: O amor é a emoção fundamental que tornou possível a história da humanidade. Ele determina as condutas humanas, que, por sua vez, tecem o convívio social, entendendo aqui emoção não como um sentimento, mas como formas de relacionamento. O amor nos dá a possibilidade de compartilhar a vida e o prazer de viver experiências com outras pessoas. Essa dinâmica relacional está na origem da vida humana e determinou o surgimento da linguagem, responsável pelos laços de comunicação e que inclui ações, emoções e sentimentos.

BF: Na essência, todos nós somos criaturas amorosas?

HM: Todas as nossas condutas, mesmo aquelas que chamamos de racionais, dão-se sob o domínio básico de uma emoção, o amor. Não o amor místico, transcendental ou divino, e também não uma virtude especial de alguns, mas um tipo de relação em que todos se mantêm fiéis a si mesmos. Amar não é um substantivo, é um verbo, uma dinâmica relacional espontânea.

XD: Todos nós nascemos amorosos, mas vivemos em um momento histórico em que predominam relações de dominação, sentimentos agressivos, arrogância e competição, que se contrapõem aos fundamentos amorosos. Isso é o oposto do amar, pois amar é um respeito pela individualidade. Amar nos permite ser vistos, ter presença, ser escutados, enfim, existir como pessoa. É um tipo de comportamento em que não há expectativas e preconceitos – impera a aceitação do outro da forma como ele existe. O que estamos propondo é apenas recuperar em nós o que é constitutivo do nosso ser.

BF: Para vocês, o mundo é, de fato, um espaço acolhedor?

HM: O mundo sempre foi maravilhosamente acolhedor. Se assim não fosse, a história do ser humano não teria acontecido. Um ser só sobrevive em um entorno que o receba. Caso contrário, torna-se negativo e agressivo e não resiste. Apesar de vivermos um momento de negação do amor, só sobrevivemos porque essa emoção persiste nos vínculos que definem a vida em sociedade. É no amor que alcançamos o bem-estar e realizamos nossa condição humana.

BF: Normalmente entendemos o amor como uma relação idealizada, perfeita. Isso é um equívoco?

HM: Perfeição implica expectativa. Isso não é amor para nós. O amor verdadeiro não exige nada, não pede retribuição. Quando surge a exigência, desaparece o amor. Ele não admite críticas, pois elas significam a imposição dos desejos de alguém sobre outra pessoa e isso dissipa o prazer de estar junto.

BF: Se o amor é um fundamento do ser, como surge o desamor?

XD: O útero é um espaço de boa terra de onde “brotamos” convencidos de que o mundo nos receberá e cuidará de nós com ternura e respeito. Se assim for, conseguimos conservar a configuração emocional própria de seres amorosos. Entretanto, o nosso estilo de vida pode nos conduzir a um processo de autodepreciação, uma armadilha criada pelos padrões da cultura contemporânea. Para rebater esse mal-estar consigo mesmo, um drible são as conversas reflexivas – um exercício de autoconhecimento em que revelamos o que vivemos e como vivemos. Refletir não é pensar, mas agir de modo a perceber o sentido da própria existência e realizar nossa natureza amorosa.

BF: Alguém que nasceu no desamor pode se reestruturar?

XD: Sempre existe espaço para transformação. Num clima de desamor, esse processo traz sofrimento. Mas a dor tem sua função: ela faz refletir e nos permite examinar nossas atitudes conosco e com a sociedade e decidir se queremos continuar naquela direção ou não. Somos continuamente mutantes. Podemos gerar mundos distintos todos os dias e isso traz esperança. Nascemos com o potencial de cultivar espaços de bem-estar, capazes de ampliar a amorosidade que vivenciamos no útero materno. E, como seres amorosos, temos a capacidade de ressurgir do sofrimento.

HM: Cada qual tem de assumir o próprio processo de mudança. Não se pode querer transformar o outro. Isso não é um ato de amor verdadeiro – quando tentamos mudar o próximo, estamos visando nossos próprios interesses e valores. A transformação deve ser feita por cada um de nós e para o nosso próprio bem. Se alguém não merece seu amor, não tente interferir na sua conduta. Afaste-se. Você tem liberdade de escolher com quem quer estar.

BF: Qual o sentido do sofrimento?

HM: A dor nos faz perguntar. Apesar de difícil, é uma oportunidade única de transformação, assim como a curiosidade, que não nos permite submissão aos padrões externos. Quando tropeçamos dói o pé. Isso faz pensar sobre o modo de andar, a atenção ao caminhar, os desafios do trajeto. A dor da alma também ensina. Se alguém me repudia, tenho de perguntar o que estou fazendo para que isso aconteça. Investigar é oportunidade para crescer.

BF: E onde nasce a dor?

XD: Como seres criativos, precisamos de um ambiente que nos permita a expressão plena da nossa natureza amorosa. A dor surge de experiências decorrentes do desamor em que a pessoa aceita e, portanto, acredita que merece não ser amada. Para superar esse sentimento, ela tem de se reconectar profundamente com essa natureza. E reconhecer que as expectativas colocadas sobre ela são demandas arbitrárias próprias de uma cultura centrada no resultado e na competição. Enxergar tudo isso muitas vezes depende de um estímulo externo, uma conversa desprovida de expectativas e julgamentos.

BF: Viver é um esforço, aqui entendido como sofrimento?

XD: O único caminho possível é a reflexão. Mas refletir não pode ser encarado como um esforço. Se há esforço significa que estamos procurando soluções. Isso não é reflexão. Refletir é conseguir recuar da cena para enxergar – e entender – a situação por outro prisma e encontrar uma nova direção a seguir.

BF: Nesse sentido, o que significa refletir para a senhora?

XD: A pergunta primordial é: gosto de viver o que estou vivendo? Quando me disponho a essa pergunta, já estou revendo minhas posturas, fora do âmbito da dor e da angústia. A conquista da consciência passa por outras perguntas: será que o meu desejo é uma imposição do outro? Será que eu quero o que imagino que quero? A reflexão guarda o desejo de se transportar para uma realidade melhor. O processo pode ser desconfortável. E é justamente quando o bem-estar desaparece que surge a oportunidade de encarar as emoções que nos povoam.